domingo, 3 de outubro de 2010

Anjo e chuva



O céu estava desvanecido, de algum lugar ressoava o barulho de cascata, o vento vinha invasivo ao meu encontro, esvoaçando o vestido branco tão leve que trajava meu corpo. Meus cabelos chicoteavam no ar, e imagens desconexas eclodiam em meio aos meus olhos atordoados.
Meus pés descalços tocaram ás pedras frias que formavam uma escada. Era de alvenaria.
Tudo tão escuro...
Por um dédalo eu percorria, e de algum canto originou-se uma melodia de violino. Eu podia ouvir. A suavidade, a delicadeza, o primor...
Exausta desabei sobre as pedras brutas, e permiti-me deitar sobre aquele piso tão áspero. Gotas de chuva me vieram ao rosto, e logo resvalavam pelos traços de minha fisionomia. Tudo estava abrangido pela sibilina negridão.
Nada meus olhos visualizavam.
Em questão de minutos, uma mão quente com leveza pousou em meu ombro... Eram mãos de anjo?
- Todos nós vamos morrer... – Murmurei.
- Logo nossos olhos verão as verdadeiras migalhas do que hoje chamamos de céu. – Completou a voz desconhecida.
Braços me envolveram a cintura. Um corpo quente encostou-se ao meu que tão pálido e gélido estava. Lábios tocaram minhas costas, e os beijos trilhavam minha pele.
Eu não pude ver seu semblante.
- O mundo vai acabar em questão de segundos... – Sussurrou ele, ao pé do ouvido. – Mas eu estarei com você.
Encolhi-me em seu colo... Fechei meus olhos.
O trovão ressoava lá fora. Era o barulho da treva que ecoava, como um monstro em um conto que me vinha buscar.
Mas estava lá o meu Serafim alado do céu, envolvendo-me, dividindo comigo o calor que trazia seus braços... E cantarolava em surdina... Numa chama de paz.

domingo, 15 de agosto de 2010

Desconexos

Atordoada tornou-se minha mente,
Pertubada e desvairada,
Pelas razões insensatas
Que como brisas me vem a tocar;

Somente sei,
Que nada esclarecerei,
O múrmurio do mar me silencia,
O plágio da melodia instiga o cerrar dos meus olhos.
Olvidando o desespero em que meu pensamento desabou.

A olência do sangue e da terra,
das rosas e das camélias,
Da chuva e do vinho,
Os retalhos da alma,
Lâminas do viver,
O amargor do veneno semelhante a uva verde;

Bailarinas e sapatilhas
Piano e fulgência
Cereja entre os dentes,
Fração de segundos,
Se vai devaneios...

Sarah Schmorantz

domingo, 8 de agosto de 2010

Encantos





Profundamente podiamos sentir aquela explosão de sentimentos que do nosso beijo originaram-se, permitindo a paixão nos abranger e inebriar com todo o encanto e formosura, porque a agrura poder não teve sobre dois corações que pulavam freneticamente na mesma melodia.
O encantado ósculo findou-se num selo prolongado, antecendendo o término. Seu sabor doce impregnado ficou em meus lábios.
Ainda de olhos cerrados, meus dedos procuraram seu rosto, afim de acarinhá-lo. Sua pele estava quente, assim como estava seu beijo enlevado.
Como uma gota de pergume, um pingo de tinta colorida, do meu coração embargado uma rosa timidamente era aflorada.
Viva... Eu me senti viva...

Sarah Schmorantz

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Enfim, um suspiro cansado,
Entre meus antigos martírios,
Com olhos passados,
E minha expressão de quem se ausenta.

Eu vi um pintor andar pelo asfalto despido,
Em trajes com cunhos de tinta,
Contemplou minha doce melancolia,
Instigando-me a reflexão,
E á entender filosofia.

Um pintor com olhar indefinido,
Com vida sob sigilo,
Solitário que se fere com o próprio açoite,
Sem precisar de lágrimas como vestígios de seu peito ferido,
Lá vem um pintor,
Disperso e desiludido.

Seus dedos eram marcados por uma rubra tinta,
E criou seu reflexo com seu pincel preferido,
De onde vinha esse pintor?

Sua pele parecia tomada por um inverno rigoroso,
Mesmo sem contato,

Ele me olhou,
Revelando seus lustrosos olhos de safira,
Nada me disse,
E não movimentou os lábios nem para um suspiro,
Mas seu olhar,
Por alguma linha invisível,
Tocou meu coração,
Que o obstinou a bater forte.

Ele me disse coisas,
Mas eu nada traduzi,
Mas sim senti,
Com palavras ocultas que me tocavam os ouvidos,
Elas eram tão fortes que nem mesmo os ventos impeliram.

Com o canto dos lábios,
Desabrochou um frágil sorriso,
Que me agasalhou a alma como um lençol de linho,
E lá, a centímetros de distância,
Conversamos sem palavras,
Sem sons,
Sem ruídos.

E depois, com um discreto gesto de despedida,
Retornou ao atalho,

Enfim, um suspiro pesado,
Entre seus antigos martírios,
Com olhos passados,
E sua expressão de quem se ausenta.

Sarah Schmorantz.

P.S: só agora eu vi o quão meu blog está insípido.
Chego a rir.

domingo, 2 de maio de 2010

acredito que exista um anjo perdido na dimensão do céu...
E que canta todas as noites...

domingo, 11 de abril de 2010

Perdida... Perdida... Perdida...

Por trás de seu abrasado corpo, há uma tez gélida, e tão pálida quanto neve – Dura feita mármore –.
No coração desfrutou uma ferida. Uma ferida sem dores, mas é possível senti-la, pois está espelhada nas íris dos olhos, os quais não dissimulam a exaustão.
O calor do hálito fora sugado pela ardência que espeta o peito, como os espinhos de um caule sem a virtude da rosa vermelha. Ela procura uma luz para saciar a sede de sua alma, porém, ela vaga as ruas com as algemas do esmo, lhe prendendo os punhos e tornozelos.
As lágrimas vertem ao rosto, cortando-lhe a garganta, mantendo presa a ânsia da fuga entre a alma e o coração.
Ás vezes é preciso liberar a passagem do pranto, para libertar o veneno que falha a respiração.

Vou parar de escrever isso...

Sarah Schmorantz Maldonado de Carvalho.

31 de março de 2010
Aula de história.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mar

Eu avistei um mar no horizonte... Ondas feitas em espumas brancas, o céu se unia junto a ele na mais perfeita sintonia... Aquela água fria e salgada, a qual está guardada toda minha recordação, todo o meu amor, toda a minha emoção... Que por um mês lá eu vivi, com os pés sobre a areia morna, e sentindo a essência indescritível da natureza.
Inspirações, brisas suaves, céu de verão... Deixaram-me feliz, e foi no sul do Brasil que eu conheci uma parte de todo meu eu dividido.
Aquelas imagens... Aquele aroma de praia, aquele por do sol bem desenhado, fez-se em sonhos o meu mundo... Trouxe-me lembranças, que me fez sorrir para os céus. Esqueci as tristezas, o açoite de meu coração, as magoas, que no mar se consumiram...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Imortalidade

o dia anoitece,
a noite amanhece,
e aqui deixo esse perfume;

aqui jaz os tempos perdidos;
não volterei a este pretérito,
aqui vejo a lua,
dando esperanças ao céu morto;

E aqui eu sinto sede;
Entre as orquídeas que nasceram dessa dor,
nesse açoite que amargurou meu coração,
aquele que mortal não é mais;

Aqui eu ando por um mundo que mudou,
mas que continua o mesmo,
devido á bruta mudança do meu olhar,

E eu sinto a essência excêntrica,
o enérgico odor que busca meu olfato,
aquele que me segue;
seja aonde eu estiver

E aqui eu me vejo;
cantando melodias;
a cada segundo que respiro,
e aqui estou amando;
a cada suspiro.

Sarah Schmorantz

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

sangue e beijo




Uma lua pintada,
a cautela de um beijo,
o amor transparecido,
uma gota de sangue em meus lábios.

Caninos aguçados,
olhos reluzentes,
abraço ardente,
pescoço perfurado,
jaz vida humana.

Aqui está a lua até o fim dos tempos,
E a tua mão eu seguro até o fim das minhas noites.
Presentes estrelas,
amena parceria,
aqui eu te vejo,
aqui eu te amo,
aqui eu te afago,
com toda ternura.

Filhos dos milênios,
seres das trevas,
vampiros,
eu e você.

Dedos entrelaçados,
profunda escuridão,
troca de olhares,
suave beijo,
doce aroma,
agradável som.

Sei que sozinha não estou mais,
sem a ferida que arde no peito,
Agora curada,
uma vampira,
uma personificação da noite,
uma aprendiz,
uma livre,
uma apaixonada,
que segue o atalho sem cautela,
ao seu lado,
com o último assobio mortal.

Sarah Schmorantz